Começou com o Evangelho Segundo Jesus Cristo e se consolidou com Ensaio Sobre a Cegueira. No começo estranhei, e como estranhei, aquele jeito dele de escrever, sem ponto de interrogação, exclamação, nenhum travessão ou aspas que indicassem quando era a fala de uma personagem. Parágrafos que podem ocupar páginas sem que haja um ponto final que facilite a vida do leitor, como acompanho um texto assim, me perguntei, passaram algumas páginas e, o que antes parecia confuso, me pareceu tão fluido. Cada um vive Saramago de forma única, disseram-me, é pode ser, vai saber quem acha José Saramago fluido.
Complicado falar de "O Evangelho...", deveria ter lido a Bíblia. Li por aí que o chamaram de herege. Perguntei para alguns católicos e eles me deram sua versão para a hisória de Jesus Cristo, perguntei para evangélicos, lá vem outra versão; mexer com histórias bíblicas, isso dá polêmica, e Saramago está no meio dela.
E Ensaio Sobre a Cegueira, como apareceu para mim? Um texto que diz que estão a produzir um
filme sobre um livro que tem cenas aparentemente instransponíveis para o cinema desperta a curiosidade de qualquer um, despertou a minha. Lá fui eu descobrir a saga da mulher do médico, da rapariga dos óculos escuros, do velho da venda preta, um estudo, uma previsão, um ensaio, sobre o ser humano, como este se adapta a uma nova forma de lidar com o mundo, fascinante, repugnante.
Tem muitas outras questões no livro, mas deixa pra depois.