Algumas músicas da cantora francesa Édith Piaf já me eram conhecidas, sem, contudo, que eu fosse capaz de associá-las a sua intérprete. O filme me veio reparar esta ignorância. Dona de uma vida intensa e recheada de fatos, no mínimo, inusitados, como acusação de assassinato e dependência de drogas, Édith Piaf passou de uma infância pobre (parte dela vivida em um bordel e em um circo) a um estrondoso sucesso como cantora, inclusive fora de seu país.
Como meu conhecimento sobre a cantora francesa resume-se a Wikipédia não vou me arriscar aqui a identificar falhas históricas nesta cinebiografia. Deixo este trabalho com pessoas infinitamente mais gabaritadas que eu. Mas de uma coisa posso reclamar; a estrutura cronológica adotada pelo diretor Olivier Dahan é um desastre. As idas e vindas na trajetória de Edith Piaf são muito confusas. Se isso já é um pecado em qualquer filme, em uma cinebiografia é uma heresia.
Por outro lado, pelo menos dois méritos este filme tem: um é o de conseguir passar para a pessoa que lhe assiste toda a intensidade da trágica vida dessa mulher; o outro é ter Marion Cotillard interpretando Piaf. A atriz, inclusive, levou o Oscar por este papel.
É até um ideal bonito o do jovem angustiado Christopher McCandless (interpretado por Emile Hirsch), que, aos 23 anos e recém graduado, resolve renegar qualquer tipo de bem material e parte rumo a uma jornada solitária, e fascinante, pelo desafiador mundo da natureza, tendo como destino mais específico o Alasca. No caminho até lá, ele faz amizades com pessoas que, cada uma com sua história, possuem seus próprios tormentos e que poderiam servir como referência para suas atitudes. Mas não é bem isso que acontece.
Para atingir seu objetivo, ele abdica do seu dinheiro, do contato com seus amigos e priva sua família de qualquer notícia sua. É, principalmente, esta última atitude de Chris que denota a sua imaturidade (e que até me deu certa raiva), ainda que não seja sua intenção causar algum tipo de mágoa.
Ao mesmo tempo em que se mostra egoísta em relação aos seus pais, Chris se revela uma pessoa carismática que consegue naturalmente manter um bom relacionamento com as pessoas que encontra ao longo de seu percurso.
Um dos pontos mais louváveis desse filme dirigido por Sean Penn é que são explicitadas as várias nuanças que um personagem baseado em uma história real plausivelmente deve ter. E saber que a incrível história deste rico personagem realmente aconteceu é de deixar pasmada qualquer pessoa que lhe assiste.
Hal Holbrook
Hal Holbrook interpreta Ron Franz, um dos amigos que Chris faz enquanto tenta chegar ao Alasca, e é responsável pela cena que mais me marcou neste filme. Pode até não ser o mais importante, mas nunca vou me esquecer do momento em que o personagem de Hal faz a Alex um pedido bastante comovente (não vou dizer o quê para não entregar um detalhe importante do filme). Foi algo tão real... e tão triste. Aquele semblante deprimido de Hal vai ficar na lembrança.
Ele foi indicado ao Oscar de ator coadjuvante por este papel e fiquei me perguntando para quem ele perdeu o prêmio. Aí lembrei que o vencedor nessa categoria foi o espanhol Javier Bardem, pelo filme “Onde os Fracos Não Têm Vez”. É, Hal, foi um ano ingrato para se competir.
Diretor: Sean Penn. Com Emile Hirschi, Willian Hurt, Marcia Gay Harden, Jena Malone, Catherine Keener, Vince Vaughn, Hal Holbrook.
O número de jornalistas nas redações diminuiu e a exigência de que esses profissionais produzam textos mais criativos e diferenciados cresceu. Se tiver algum traço de humor inteligente melhor ainda. A partir dessa perspectiva podemos entender um pouco, mas não justificar, a história de Stephen Glass, que na segunda metade da década de 90 trabalhava no The New Republic(uma respeitada revista estadunidense) e que ficou famoso pelas suas interessantes, bem-humoradas e totalmente falsas matérias jornalísticas. O Preço de Uma Verdade conta a história real desse jovem jornalista, então na casa dos vinte e poucos anos, que já chamava atenção pelos seus textos. Depois de uma rápida escalada profissional, Stephen Glass começa a despertar a desconfiança de um colega de profissão, que trabalha em outro veículo, ao publicar uma matéria curiosíssima sobre um hacker. Daí até a descoberta do seu método imaginativo de escrever reportagem é um pulo. A própria estrutura narrativa do filme brinca com a mente fantasiosa do protagonista.
Mesmo expondo um caso, no mínimo, constrangedor do jornalismo e mostrando como, infelizmente, pode ser fácil produzir matérias mentirosas, o filme, de certa forma, também defende essa profissão ao dar espaço a personagens como Chuck Lane (interpretado por Peter Sarsgaard), um jornalista sério que serve como um contraponto, bastante adequado, a Stephen Glass (Hayden Christensen).
Sobre Christensen, aliás, só o havia visto nos dois últimos Star Wars lançados e, mesmo tendo interpretado ninguém menos que Darth Vader, não foi o suficiente para chamar minha atenção. Aqui ele é bastante competente em expor a simpatia, a aparente vulnerabilidade e o crescente desespero deste patético personagem.
Esta película se estabelece, assim, como uma importante fonte de reflexão sobre o trabalho jornalístico, sobre ética e como, às vezes, um texto burocrático mas correto é bastante bem-vindo.