Imaginem-se caminhando na rua, fazendo compras, dirigindo um carro e de repente by by visão! Uma epidemia de cegueira atinge toda uma população e a obriga a apelar para meios, muitas vezes insanos e desumanos, para lidar com essa situação que ao longo da história vai ficando cada vez mais caótica.
Ensaio Sobre a Cegueira ilustra uma nova forma de lidar com o mundo, com os próprios sentimentos e os sentimentos de outras pessoas. A cegueira em si funciona perfeitamente de forma metafórica. Já não estaríamos cegos antes da epidemia? Será que prestávamos atenção no outro ou só estávamos preocupados com nossa individualidade?
A descaracterização da individalidade identitária é tão forte no livro que as personagens não recebem nomes próprios; elas são referenciadas por alguma situação ou condição que a marcou (ou marca) bastante. Eis alguns dos exemplos dessas personagens:
o primeiro cego, a mulher do médico, o velho da venda preta, o rapazinho estrábico...
Em seu livro, Saramago aborda também o coletivismo, a dignidade, o feminismo e certamente muitas outras questões, que só vou perceber em uma segunda (terceira, quarta...) leitura.
As mulheres, em especial, ganham muito destaque na história. Elas são fundamentais no transcorrer dos acontecimentos e são geralmente as responsáveis pelos momentos-chave da história.
Em um certo ponto do livro um grupo de mulheres deve se subter a uma situação, no mínimo, humilhante para que, nem elas pessoas e as outras das quais elas gostam, não passem fome. E é em momentos como esses da obra que nós nos perguntamos até que ponto o homem retrocede em sua dignidade. Chocante isso, muito forte.
Quando eu ler mais algumas vezes Ensaio Sobre a Cegueira, volto aqui e escrevo mais uns posts sobre o livro.
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Outro dia, alguém disse que não conseguiu terminar de ler Saramago porque “ele não pontua”. Conselho? Tenta de novo. Senão você vai perder a chance de ler um autor, no mínimo, instigante.